Sunday, January 3, 2010

2010

Nem acredito que já começa o novo ano... Pior, que se iniciou uma nova década e eu pouco ou nada recordo o que se passou na minha vida desde o ano 2000. Estou mesmo a ficar velha...

Para o novo ano, ficam algumas resoluções:
- Parar de me angustiar com o futuro
- Ter fé que as coisas vão melhorar
- Ser feliz e fazer o que gosto
- Continuar fiel a mim mesma
- Continuar a aprender e a crescer

E a última e não menos importante:
- Fazer mais tricot

Neste ano em que mal tricotei quase me esqueci do quanto o tricot me acalma e ajuda a pensar. Tornei a pegar nas agulhas e já tenho muitos planos para novos projectos e dois WIP. Tentei tricotar um pouco no ano que passou mas as tendinites fiseram com que não conseguisse. Cheguei, pela primeira vez a acordar com dores no braço direito e por isso decidi não abusar. Desde que parei de trabalhar não tenho tido dores, estou muito contente, espero que se mantenha!

Para encerrar, ponho um poema de José Régio com o qual me identifico muito:

Cântico negro

José Régio


"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

2 comments:

Mamã Martinho said...

Ora bem, eu cá estou para ver se consegues os objectivos estabelecidos! Estou desejosa de ver esses teus trabalhos. Não te esqueças de os levar ao encontro.

Bjs

Mónica

Celina said...

Que bom, voltaste! Espero que este ano te traga disponibilidade para o que gostas, muita inspiração e, claro, muitos projectos! Beijinhos